quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Compras no trânsito

O trânsito em Luanda, já aqui frisei, é caótico. O melhor é mesmo evitar mas, por vezes, temos de o enfrentar.

Ainda assim, sobram algumas vantagens decorrentes do tráfego desta capital. Quem quiser fazer as compras para o mês, por exemplo, pode fazê-lo enquanto conduz o seu veículo a 1 quilómetro por hora.

Eu, que apenas tinha fome, comprei um pacote de bolachas a um dos rapazes que estão no meio da auto-estrada a vender os mais variados produtos. Aqui fica a lista de artigos já visionados pela minha pessoa.

 - Bolachas (adquiri um pacote por 1 euro);
 - Refrigerantes;
 - Pensos rápidos;
 - Preservativos;
 - Pensos higiénicos;
 - Perfumes;
 - Galinhas (inteiras, apenas mortas);
 - Pilhas;
 - Tampas de sanita;
 - Carregamentos para telemóveis;
 - Meias;
 - Pen drive;
 - Impressoras;
 - Fraldas;
 - Leite;
 - Carcaças;
 - Atacadores para sapatos;
 - Óculos;
 - CD´s e DVD´s;
 - Torneiras para WC e Cozinha;
 - Botões;
 - Latas de cogumelos;
 - Fogões (o meu produto favorito);
 - Peluches com alguma sujidade;

domingo, 28 de agosto de 2011

As partes de cima

Quem me conhece, sabe que tenho por hábito fazer comentários sobre as "partes de trás" das coisas.

Parte de trás de um esquentador, de uma cidade, de uma estação de comboios, entre muitas outras...
Mas, desta vez, o ângulo muda. Agora, são as "partes de cima".

Em Luanda, as partes de cima mexem comigo. Mexem tanto, que senti a obrigação de fotografar uma maravilhosa "parte de cima" desta metrópole da África Subsaariana.

Para pura e mágica apreciação, aqui fica.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Audiovisual

Novidade aqui no blog: um vídeo!

O Ângelo Miguel e um colega (ambos sem capacete) ultrapassam um agente da polícia de trânsito, que também se desloca de motorizada. O segundo 9 é elucidativo.

Créditos da filmagem: Ângelo Miguel


segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Coisas giras!




Há uma forma de desanuviar de Luanda: agarrar no carro (convém ser um jipe) e zarpar...podemos sair da província (de Luanda), pode até nem ser preciso, mas é imperativo sair da cidade.

Saídos da selva de cimento, as paisagens começam a ser mais agradáveis que a Baixa de Sacavém. É uma opinião minha. Quem estiver a ler pode não concordar e eu compreendo. Gostos e opiniões não se discutem, já dizia a minha progenitora, a dona Filomena.

Mas, para não se discutir mais, deixo aqui um ou outro registo fotográfico. Pobre, é justo dizê-lo, mas é o que há, de momento.
Isto foi no passado domingo. Com excelente companhia, gente amiga, boa comida, bom veículo, temperatura aceitável e, até, excelente música.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Lubango, província da Huíla

Post dedicado a indivíduos que apreciam ser considerados atrasados mentais.

Lubango, local onde:

 - se bebe cerveja barata;
 - ingere-se cerveja ao lado de musseques;
 - o amendoím é confeccionado de forma caseira;
 - se discute futebol de forma acessa;
 - há um número considerável de senhoras agradáveis a circular;
 - o dia passa devagar;
 - há muito sol
 - existem imensas montanhas;
 - as ruas largas são regra;
 - o trânsito é excepção;
 - se joga xadrez nas ruas;
 - se vende pão nas ruas;
 - há prédios com marcas de tiros da UNITA
 - as galinhas e os gatos têm uma relação saudável;
 - os cães estão sempre a dormir;
 - há um ou outro skinhead.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Para se chegar ao Lubango

Garanto-vos, sem qualquer margem de dúvida, que chegar ao Lubango foi das coisas mais complicadas que tive em Angola. São tantos episódios, que irei reproduzir os vários diálogos. São curtos. Não maçam.

Após passar uma "espécie" de beco, chegamos ao Aeroporto de Luanda - Voos Domésticos.
À entrada, uma cancela com a respectiva máquina de tickets. O nosso motorista, por não conseguir alcançar o botão (que dá direito ao ticket) teve a ajuda de um rapaz. Adolescente.

Esse mesmo adolescente, mais quatro rapazes correm ao lado do nosso automóvel até estacionarmos.
Ao sairmos do carro (eu, motorista e um colega) somos abordados pelo grupo de rapazes. Rapidamente notam que não possuo cadeado, que uma caixa onde transportamos revistas não está bem acondicionada e que lhe falta um saco de plástico. Tudo bem, estão a ajudar. Vamos à fase de negociação.

Rapaz (R) - Doutores, são 20 dólares!
Colega (C) - Tá tudo doido! Um cadeado, um saco de plástico e fita-cola são 20 dólares? Vão roubar para a estrada...
R - É sério, doutor...os mambos tão caros. Só este plástico é 8 dólar...
Motorista (M) - Quê!!!! O meu irmão vendia esses sacos no Roque Santeiro (mercado) por 2 dólares...
R - Cota, Luanda tá caro...tá difícil...
C - Dou 10 dólares e acabou a história.
R - Assim fico a perder...11 dólares, pode ser?
C - 10 dólares e mais nada.

Continuamos em frente e, quase a entrar no aeroporto, estão dois senhores fardados não sei bem do quê...

Senhor Fardado 1 (SR1) - Ê, êh, Ê, êh...pára aí! O que é isso? (aponta para a caixa que tinha sido selada e que continha revistas)
Ângelo (A) - São revistas.
SR1 - Com esse peso?
A - Sim, são muitas...
SR1 - Nãaaaaoo....isso é ferro!
C - Não senhor guarda. São revistas!
SR1 - Naaaa...isso é ferro.

Após a última afirmação contundente, e certo do que dizia, pede a opinião ao colega do lado.
SR1 - Pega nesse mambo e vê lá se não é ferro?
Senhor Fardado 2 (SR2) - Ê, eh, Ê, Ehhh, ê...isso é ferro!
C - Qual ferro senhores. São revistas. Olhe, tenho aqui duas comigo. Querem? Uma para cada um?
SR2 - Eh, ê, dá só. Gosto de estar informado.

Continuamos e, dois metros a seguir, paramos. Um polícia pede-nos os passaportes.
Polícia (P) - A sua identificação, por favor?
A - Aqui está...
P - Vem da Tuga?
A - Sim.
P - Passe, passe.

Dirigimo-nos para a zona do check-in. Não há filas. Vamos os dois para o mesmo balcão. Entregamos os bilhetes e os passaportes. A senhora, simpática, recebe os documentos e começa a trabalhar a informação que neles consta. Cinco minutos mais tarde e após muita análise, solta uma frase bastante esclarecedora:

Senhora do Balcão (SB) - Não podemos emitir os bilhetes. Esperem ali (aponta para lugar nenhum).
C - Não pode emitir porquê?
SB - Agora não é possível. Não estão no sistema...
A - Mas foram comprados ontem. Como não estão no sistema?
SB - Aguardem ali, por favor (aponta, mais uma vez, para lugar nenhum).

Uma hora e meia depois, e sem esclarecimentos adicionais, a senhora chama-nos para o mesmo balcão. Tira os dois bilhetes. Deseja-nos uma boa viagem.

Dirigimo-nos rapidamente para a zona de detecção de metais. Tiramos os cintos, relógios, portáteis, moedas...tudo. O normal. Passámos sem qualquer problema. Eis que, mesmo ao meu lado, o responsável daquele departamento profere a seguinte frase:

Responsável Departamento (RD) - Tem aí saldo?
A - Saldo?
RD - Saldo, sim. Sabe como é, para a cooperação...nem apitou nada, nem nada!!
A - Não tenho saldo. Sou pessoa de poucas posses.
RD - Ô, ô! Saldo! Só um saldo...
A - Não tenho, não tenho...

Bebo uma caneca de cerveja enquanto aguardo pela chamada de embarque. Bebemos, aliás. O meu colega também acompanha. Faltam, segundo o horário do voo, 20 minutos para que a viagem para o Lubango se inicie. Mas não. Uma hora depois, embarcamos!

Pronto, ok. Vá, não te queixes. Agora é só uma hora de viagem. É tipo Lisboa-Madrid.
Acomodo a minha mochila, sento-me. Aperto o cinto. “Tlam, tlam!!” (aviso sonoro de comunicação interna). É o comandante. Ouçamos o que ele tem a dizer:

Comandante - Devido a questões protocolares, apenas poderemos descolar dentro de 90 minutos. Pedimos desculpa pelo incómodo. Entretanto, vamos passar uma película de grande nomeada. Príncipe da Pérsia!!

E foi isto. Já estou no Lubango.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Passeio a pé...


Trinta minutos a andar pelas ruas de Luanda. Ontem, após mais um trabalho vespertino, decidi regressar ao escritório apoiado nas botas Caterpillar que possuo nos pés...

As ruas desta cidade são como o Minipreço: incompletas. Falta sempre algo. Ou é a tampa do esgoto ou o plástico do poste de electricidade. Faltam sempre as portas das caixas de alta tensão. Por vezes, também falta chão. Em alguma ocasiões, falta prédio. Dos que já estão construídos e dos que estão em construção. Falta sempre.

Pormenor ainda não partilhado desta aventura é o facto de faltar a luz várias vezes.

Verbo faltar: Não haver (o que é preciso); Haver falta (de alguma coisa);  Ser preciso; Não chegar; Haver de menos, Deixar de cumprir; Falhar; Gastar-se; Acabar-se.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Uma ida à farmácia

Uma ida à farmácia pode ser uma coisa simples quando os preços praticados são normais. Quando assim não é, uma ida a estes locais de venda de medicamentos pode tornar-se uma chatice financeira. Ora vejamos.

A - Ângelo Miguel; F - Farmacêutica

A - Boa tarde!
F - Boa tarde! Diga por favor.
A - Estou com um problema na gengiva. Tenho uma espécie de infecção...não têm daqueles líquidos bastante em conta, para bochechar e que consiga resolver a situação? Daqueles mais simples...baratos...
F - Temos sim...aqui está!
A - Óptimo. E um gel que se coloca na gengiva, para que o tratamento seja ainda mais eficiente? Daqueles mais baratos, que nem têm grande valor de mercado...
F - Sim, sim. Temos. Está aqui.
A - Quanto é, por favor?
F - 40 dólares!
A - Vou só ali à Multicaixa, já volto...


Tenho gostado da opção "diálogo", para melhor reproduzir situações sociais.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A polícia, mais uma vez!

Desculpem. Volto a insistir nas forças da autoridade e até não era minha intenção chatear-vos mais com esses indivíduos, mas vai mesmo ter de ser...aqui vai.

A - Ângelo; M - Motorista; P - Polícia de Trânsito
Viagem de mota. Luanda parada de tanto trânsito. Normal, é assim todos os dias.

A - "Oh Ribeiro, fizeste uma das piores contra-ordenações que já vi! Incrível! Passaste dois traços contínuos, vamos em contra-mão e o sinal está verde para os que vêm em sentido contrário!!!!"
M - Eeheheheehehe. Opá! Eehehehehehe!

Cinco metros à frente, um polícia de trânsito faz-nos sinal de paragem.

P - Encoste por favor!
M - Na, na!
P - Não vai parar?
M - Tás a gozar? Nem pensar?
P - Ôkey, ôkey...

Passamos pelo polícia, sem sequer acelerar, desrespeitando a sua ordem. Ribeiro, sentido-se na obrigação de fazer um esclarecimento da situação, desabafa:

M - O gajo queria estragar-me o dia, já viste?
A - Naaa....estes gajos não têm mais nada que fazer!
M - Boelos (burros), pá!
A - Tsss, tsss...

sábado, 6 de agosto de 2011

O aniversário de uma criança

Vou ser sintético. Não me apetece escrever. Não tenho feito mais nada nos últimos dias.

Fui a um aniversário de uma criança que completava cinco anos. É isso mesmo, 5!
A festa começava às 21 horas de uma 6ªfeira. Havia cerveja, whisky, vodka e alguns sumos. Não havia água.

A nível sólido era possível encontrar um rodízio de carnes, bacalhau com natas, lasanha e milhares de salgados. Milhares de doces, bolos, t-shirts com a cara da criança aniversariante, fogo de artifício, luzes de discoteca, dj (com macbook e dois pratos) e um sistema de som que faz inveja ao Lux.

O espaço utilizado era o pátio de uma vivenda que, presumo, fosse dos pais da aniversariante.

A maioria da população presente era adulta, e ia dançando kizombas, sembas e kuduros de forma incessante.
À meia-noite, quando saí, entrava imensa gente...adulta.

And that it´s all!

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Resposta ao "Bom dia!"

Aspecto curioso em Angola, este. Quando nos cruzamos com alguém em Luanda e "lançamos" o "Bom dia!", a resposta nunca é "Bom dia!". Mas, gente, calma. Não façam juízos precoces, e não pensem que se trata de gente mal-educada. Bem pelo contrário.

Aqui, há uma forma plural de responder ao "Bom Dia!". Vamos aos exemplos práticos:

Obrigado, sim!
Senhor!
Senhor, sim!
Senhor, sim, sim! (adoro esta!)
Muito obrigado, sim!
Tudo, senhor!

Por norma, estas frases são acompanhadas de um sorriso e de um aceno com a mão a fazer lembrar o Nacional-Socialismo.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Agentes da autoridade

Ponto prévio: este relato não possui imagem. Rapidamente perceberão porquê.

Hoje conheci um recinto desportivo do caraças: Estádio da Cidadela, antiga casa da selecção angolana de futebol. Péssimo espaço, mas com alguns pavilhões anexos, o que dá um toque polivalente à coisa.

No regresso ao escritório, após realizar uma reportagem sobre atletas paralímpicos, circulávamos (eu e o motorista) na nossa motorizada por ruelas estreitas. Muito estreitas. Até que...somos mandados parar pela polícia. Três agentes com metralhadoras, com ar de quem não estavam satisfeitos com ninguém.

Vou, então, reproduzir a conversa.

Legenda: A - Ângelo; M - Motorista; P - Polícia

P: Senhor motorista, sabe que a sua mota não pode levar reboque (duas pessoas)...
M: Não pode? Mas esse mambo tem de levar duas pessoas...senão dá para o quê?
P: Poder, pode, mas não deve. E o capacete do senhor (aponta com a metralhadora para o Ângelo Miguel)?
A: Não fui informado que se deveria utilizar o capacete...aliás, estão várias pessoas sem o mesmo...
M: Poças, senhor polícia, a malta tá a andar sem capacete. Eu tenho. Só ele é que não tem e fomos fazer ali uma notícia...ele é jornalista!
P: Tem cartão de identificação?
A: Tenho aqui o bilhete de identidade português. Não ando com o passaporte. Serve?
P: Ya, dá aí...

(Contempla o BI durante 2/3 minutos, analisa o meu focinho e toma conhecimento dos nomes dos meus progenitores).

P: Camarada, vamos ter de fazer aí uma negociação ao nível do cidadão com a autoridade...
M: Mas nós não temos dinheiro...
P: Então vamos ficar com a mota, camarada...estamos a falar de uma negociação fa-se-a-da (tem a ver com os vários momentos da negociação)

(Entretanto, o agente troca algumas impressões com um colega, regressando após dois minutos de conversa)

P: O que se passa é o seguinte. Vocês, camaradas, até estão dentro da legalidade. O que nós queremos é uma negociação. Um mambo para o café com o sócio, ali...hoje choveu, uma bebida bem quente...tão a entender?
A: Senhor agente, eu estou com um problema que é o seguinte: não tenho dinheiro.
P: Sim, mas os camaradas têm de entender a situação aqui...temos de analisar bem as coisas...
M: Mas, senhor agente, se está tudo bem, e nós temos dinheiro...
P: Tou a ver...vão, vão!

A autoridade em Luanda que reveja, por favor!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Funda, a leste de Luanda

Uma viagem à localidade da Funda demora, sensivelmente, uma hora.

Trajecto simpático, onde somos brindados com as típicas estradas africanas de perder de vista. Nas margens, pode-se observar habitação bastante "humilde", mato denso ou, também, uma vista desafogada, em que os lagos são mais interessantes que o existente no Parque Central da Amadora.

Chegado à Funda, entrei num complexo rural. Pequenas casas para alugar durante o fim-de-semana, zonas de refeições bastante agradáveis, piscina e, mais importante, um pontão, mesmo em cima de um lago, onde descansei uma boa meia hora e observei vários tipos de aves. Uma variedade muito maior do que aquela que encontramos na Portela de Sintra.

Trinta minutos a contemplar o silêncio. É importante. Luanda consome-nos...
Hoje, é isto. Pouca coisa, sei.

sábado, 30 de julho de 2011

Luanda - Viana - Talatona - Luanda




Ontem tinha imensa coisa para fazer. Entrevistas, reportagens, levantamento de credenciais...e tudo isto no eixo Luanda - Viana - Talatona. Não é muito. Não consigo quantificar, mas deverá ser o equivalente a fazer Lisboa - Queluz - Cacém.

Acontece que um trajecto desta natureza em Luanda faz-se em...várias horas, literalmente. Não se anda. Quando o carro avança, é sempre pouco. Não sei bem quantas faixas de rodagem existem, já que isso, aqui, é completamente irrelevante.

Durante este trajecto vê-se imensa coisa. Boa e má, como é óbvio.

Deixo-vos, então, com a Kawasaki, versão Angola: Kawaseki! Uma das coisas boas que vi...

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Menos sociedade, mais intimismo

O dia de ontem (não o de hoje, que ainda não acabou) teve vários momentos. Lamentavelmente, não poderei abordá-los todos aqui. No meu regresso, com um café ou uma imperial à frente, entro em detalhes. Aqui, apenas selecciono uma fase do dia.

Escolhi o momento da entrevista com um músico luso-angolano. O seu nome é Yami. Este artista era frequentador assíduo do Hot Club. Nasceu em Luanda e por cá ficou até aos cinco anos. Depois, abandonou o país e fixou-se em Lisboa.

Mais de 30 anos depois, aterrou na sua terra. Tinha uma entrevista com ele. Em "off", falámos do meu exemplo: filho de cabo-verdianos, mas que nunca esteve em Cabo Verde. Um pouco como ele.

Sem microfone, cantou músicas dos Beatles e de sua autoria. Falámos sobre ser músico, jornalista, pessoa, coisas simples. Jurámos, os dois, que jamais falariamos mal do trânsito da IC19. Ficou combinado.

Ficou igualmente a promessa de que quando estivéssemos em Lisboa, que beberíamos um café.
Combinado.

À nossa volta, fumo, moscas, mosquitos, míudos e instrumentos musicais.
Abraço pessoal!

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Dia dois em Luanda. Primeiro inteiro.


Um dia que não começou bem. Na minha óptica, acordar antes das dez da manhã é começar mal. Pior, é, se o fizer às sete da matina. Foi o que sucedeu. Mas, Ângelo Miguel, deixa-te lá de tretas. Acorda, põe-te bom e vai lá ver o que se passa neste sítio do tamanho do Porto, mas com 4,5 milhões de pessoas e onde as regras de trânsito são nulas. É sobre este tema que mais vou falar hoje.

Tive a incumbência de adquirir três objectos que permitem a realização de comunicações móveis. A compra dar-se-ia numa delegação da Unitel. Como ainda não conheço bem a cidade (parece-me natural), fui acompanhado. 

O trânsito caótico da cidade fez com que a opção passasse pela deslocação numa motorizada. Esfreguei as mãos e partilhei com os meus botões: “vai haver parvoíce”. E houve.

Ponto primeiro: as passadeiras para peões, tal como nos países latinos, não são motivo de abrandamento. Ninguém pára. Não me surpreendeu, confesso. Surpreendi-me, sim, com a quantidade de cães que têm um gosto especial em ficar sem patas. Alguns também não têm olhos. Conflitos com felinos de pequeno porte, aposto. Nos anos 80 era assim a vida animal em Queluz.

Apercebi-me, também, que as rotundas não significam rigorosamente nada. Quem chegar primeiro passa. Os semáforos também causam alguma apreensão: quase nunca estão em funcionamento. Dos dez por cento que funcionam, nove estão com sinal intermitente, o que promove, ainda mais, a confusão. 

Deixei para último a parcela unitária de percentagem respeitante aos sinais luminosos que funcionam. Quando o sinal está vermelho, os carros param. Mas as motas não…por isso, nunca parei num vermelho. Temos sempre a sensação que vamos bater em alguém. Mas não. “Nem se coloca essa questão”, diz-me o profissional da condução enquanto se ri.

A lógica de respeito pelo traço contínuo não existe. As motorizadas deitam tanto fumo que as claques de futebol deveriam rever a lógica de aquisição de tochas em sites croatas. Dança-se muito nas ruas, sem música. Ouvem-se gargalhadas a todo o momento. Chego a pensar que há um angolano em cada esquina a contar uma anedota brutal com gente à sua volta a aguardar o desfecho da mesma. Fenómeno bastante comum nos anos 80. Pelo menos na Amadora era assim. 

Para terminar, uma observação que faz todo o sentido: tenho a sensação que a polícia em Angola não tem nada para fazer. Digo isto, porque a cada 500 metros existe uma operação Stop.

P.S. Sempre que possível, tentarei ilustrar os posts aqui colocados.
Família, amigos, colegas, um grande beijinho e abraço!

quarta-feira, 27 de julho de 2011

As primeiras (poucas) sensações (26/07/2011)


Sendo este o primeiro post, do primeiro dia, pouco irei falar da realidade que encontrei. Antes de qualquer comentário sobre Luanda, dizer que este espaço irá servir para manter informado quem possui algum carinho pelo Ângelo Miguel. 

O blog irá responder às questões mais óbvias (Estás a gostar? Isso é giro? Faz calor? Há neo-nazis?) e, igualmente, às menos evidentes (profissionais e do quotidiano angolano).

Aterrei às 18h20 (mesma hora em Portugal), mas apenas saí do aeroporto às 20h30. Há que entender que a amostragem do passaporte é uma actividade similar a respirar por estas paragens. Na zona “nada a declarar”, onde, como é óbvio, nada se declara, existe uma fila comparável à Segurança Social no Areeiro. 

Estamos no Inverno, anoitece às 18h e as pessoas dizem que está frio. Eu acho que está calor, até porque existem imensos mosquitos. Recordo-me, apesar de já não lá morar há um ano, que em Massamá, no Inverno, não há mosquitos. Há vento, mosquitos não. Sintomático, portanto, quanto às temperaturas na capital de Angola. 

Para terminar, pois não vos quero maçar mais, referir que circulei por quase toda a cidade sem trânsito, algo impensável e impossível durante o dia. Alimentei-me na baía de Luanda, num local com mais interesse que toda a zona de Mem-Martins. 

P.S. Eu avisei que o primeiro post ia saber a pouco...